
sábado, 29 de agosto de 2009

sábado, 11 de abril de 2009
terça-feira, 31 de março de 2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
quinta-feira, 9 de outubro de 2008

[...] Quando se prova, nunca mais se esquece. Ai, ai. Depois de duzentos e sessenta broches, quatrocentas quecas normais e cento e seis no cu, começa o namoro. Mas é mesmo assim que as coisas são. Quantas pessoas no mundo amaram antes de foder?
[...]
- Não pares - repete ela - Já ouvi essas palavras em qualquer lado. - Na verdade, raramente ouvira essa forma verbal sem ser antecedida por um «não». Não de um homem. Não muitas vezes de si mesma. - Sempre pensei que «não pares» era uma palavra só.
- E é. Continua a dançar.
- Então não a percas. Um homem e uma mulher num quarto. Nus. Temos tudo, não precisamos de mais nada. Não precisamos de amor. Não te rebaixes, não te tornes num idiota sentimental. Estás mortinho por isso, mas não o faças. Não percamos isto. Imagina, Coleman, imagina mantermos as coisas deste modo.
Ele nunca me viu dançar assim, nunca me ouviu falar assim. Há tanto tempo que eu não falava assim que julgava ter-me esquecido como era. Tanto tempo escondida. Ninguém me ouviu falar assim.[...]
- Imagina - diz -, vir todos os dias... e isto. A mulher que não quer ter tudo. A mulher que não quer ter nada.
Mas nunca quisera tanto ter alguma coisa.
[...]
- Não há ninguém como tu. Helena de Tróia.
- Helena de Lado Nenhum. Helena de Nada.
domingo, 28 de setembro de 2008

se estar aqui
já é muito?
Por vezes
é mesmo de mais
sobretudo
quando não se ama já
e o coraçãp emudecido
pesa como pedra dentro
como morte dentro
do nosso corpo
agitado pela vida
Querer cumprir
querer produzir
[...]É isso o que tu queres de nós
terra
vida
alma?
É isso o prazo da existência
o seu interesse?
[...]
Efémera e contínua
caminho firme para o invisível
segunda-feira, 15 de setembro de 2008

domingo, 17 de agosto de 2008

[...]
- Sabes, depois de chegar à Casa Branca o tipo deixou de dominar. Não podia. Também não dominou a Willey. Foi por isso que ela ficou fula com ele. Quando se tornou presidente perdeu todo o seu talento arkansiano típico para dominar mulheres. Enquanto foi procurador-geral e governador de um pequeno estado obscuro, dominar era perfeito para ele.
[...]
- O que acontece no Arkansas? Se um tipo cai quando ainda se encontra lá, não cai de muito alto.
- Exactamente. E calcula-se que tenha tara pelo cu. É uma tradição.
- Mas quando chega à Casa Branca, não pode dominar. E quando não pode dominar, Miss Willey vira-se contra ele, e Miss Monica vira-se contra ele. Teria garantido a lealdade dela se lhe fosse ao cu. O pacto devia ter sido esse. Isso tê-los-ia ligado. Mas não houve pacto.
- Bem, ela assustou-se. Sabes bem que esteve prestes a não dizer nada. Starr esmagou-a. Onze gajos na sala com ela naquele hotel, já imaginaste? A massacrá-la? Foi uma geraldina. Uma violação colectiva encenada por Starr naquele hotel.
- Isso é verdade. Mas ela já andava a falar com Linda Tripp.
- Ah, sim.
- Anadava a falar com toda a gente. Pertence àquela cultura idiota do blá-blá-blá. A esta geração que se orgulha da sua superficialidade. A sinceridade é tudo. Sincera e vazia, totalmente vazia. A sinceridade que dispara em todas as direcções. A sinceridade que é pior do que a falsidade e a inocência que é pior que a corrupção. Toda a rapacidade oculta sob o manto da sinceridade. E do jargão. Aquele vocanbulário maravilhoso de todos eles, e em que parecem acreditar, a respeito da «falta de mérito próprio», quando na realidade estão sempre convencidos que têm direito a tudo. Chamam carinho ao descaramento e mascaram a desumanidade de perda de «auto-estima». Hitler também tinha falta de auto-estima. Esse era o problema dele. É uma farsa, o que esses miúdos armaram. A hiperdramatização das emoções mais insignificantes. Relação. A minha relação. Clarificar a minha relação. Quando abrem a boca apetece-me amarinhar pelas paredes. Toda a linguagem deles é um somatório da estupidez dos últimos quarenta anos. [...]
- [...] Ele podia topá-la. Se não é capaz de topar Monica Lewinsky, como pode topar Sadam Hussein? Se o tipo não é capaz de topar e cortar as voltas a Monica Lewinsky, não devia ser presidente. Isso é fundamento genuíno para impugnação. Mas, insisto, ele topou. Ele topou tudo. Não acredito que tenha ficado muito tempo hipnotizado com a história da carochinha do seu disfarce. Claro que viu que ela era absulutamente corrupta e absolutamente inocente. A extrema inocência era a corrupção: era a sua corrupção, a sua loucura e a sua astúcia. [...] Mas o que não percebeu foi que tinha de lhe ir ao cu. Porquê? Para a calar. Estranho comportamento o do nosso presidente. Foi a primeira coisa que ela lhe mostrou. Pôs-lha à frente do nariz. Ofereceu-lha. E ele não fez nada. Não entendo este tipo. Se lhe tivesse ido ao cu, duvido que ela tivesse falado com Linda Tripp. Porque não quereria falar a esse respeito.
[...]
- É pelo cu que se gera a lealdade
- Não sei se isso a teria calado. Duvido que seja humanamente possível calá-la. Não estamos perante um caso de Garganta Funda, mas sim de Boca Escancarada.
sábado, 16 de agosto de 2008

a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará
[...]
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver àrvores ao fim da rua
É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
[...]
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã
[...] e através da vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
Ruy Belo in O Problema da Habitação, "VII A Mão no Arado".
sexta-feira, 18 de julho de 2008
sexta-feira, 28 de março de 2008
sábado, 26 de janeiro de 2008

A falsidade é quase sempre um meio certo de triunfar; aquele que a possui adquire necessariamente uma espécie de prioridade sobre aquele com quem tem comércio ou correspondência; fazendo-se admirar com um exterior falso, convence e, a partir desse momento, passa a triunfar. Mesmo que eu me aperceba de que fui enganado, a ninguém devo culpar a não ser a mim e aquele que conseguiu intrujar-me procedeu tanto melhor quanto eu, por orgulho, me não irei lamentar; a sua superioridade em relação a mim será sempre grande; terá sempre razão quando eu nunca a tenho; avançará enquanto eu nada sou; há-de enriquecer enquanto eu me arruíno; sempre acima de mim, não tardará a cativar a opinião pública; nessa altura, por mais que eu o queira inculpar, ninguém sequer me ouvirá. Entreguemo-nos portanto, ousada e incessantemente, à mais insigne falsidade; olhemo-la como chave de todas as graças, de todos os favores, de todas as boas reputações, de todas as riquezas e consolemo-nos calmamente do desgosto de intrujar apenas pelo prazer de sermos malandros.
Marquis de Sade in "Terceiro Diálogo", A Filosofia na Alcova.
t-shirt by Jenny Holzer.