quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Respondendo a um que lhe perguntou qual era o pior momento da vida humana, disse: «Exceptuando o tempo do sofrimento, e também o do temor, eu por mim diria que os momentos piores são os do prazer: porque a esperança e a recordação desses momentos, que ocupam o resto da vida, são coisas melhores e muito mais doces que os próprios prazeres».
[...]observava que nenhuma situação é tão desgraçada que não possa piorar, [...] a natureza não determinou nenhum limite para os nossos males; [...]Portanto, enquanto a maior parte dos homens não deve realmente esperar nenhum aumento da quantidade de bens que possui, nunca a nenhum deles, enquanto esta vida durar, pode faltar motivo real para ter medo; e se a sorte depressa se reduz de tal maneira que não é capaz de nos benificiar posteriormente, não perde no entanto, em tempo algum, o poder de nos ferir com novos golpes, capaz de vencer e quebrar a própria firmeza do desespero.
[...] disse que perder uma pessoa amada, por causa de qualquer acidente súbito [...] não é tão doloroso quanto vê-la ser destruída pouco a pouco [...]. Coisa que provoca a maior infelicidade, porque nesse caso a pessoa amada não se desvanece diante de ti, deixando-te, em sua substituição, a imagem que dela guardas no espírito, não menos inspiradora de amor do que era no passado; pelo contrário, apresenta-se aos teus olhos completamente diferente daquela que antes amavas, de forma que todas as ilusões do amor te são arrancadas violentamente do espírito; e quando por fim ela se aparta para sempre da tua presença, aquela primeira imagem que dela guardavas no pensamento foi apagada pela mais recente. Assim, perdes completamente a pessoa amada, uma vez que ela não pode sobreviver nem sequer na tua imaginação: a qual, em vez de um pouco de consolação, não te dá senão motivos para tristeza.
[...]
Dizia por vezes a rir que as pessoas habituadas a transmitir constantemente aos outros os seus pensamentos e sentimentos falam em voz alta mesmo quando estão sozinhas, se uma mosca lhes pica, ou se entornam ou lhes cai da mão um jarro; e que, pelo contrário, as ques estão acostumadas a viver consigo próprias e a reprimir-se no seu íntimo, mesmo que se sintam atingidas por uma apoplexia, e embora encontrando-se na presença de outras pessoas, não abrem a boca.

Giacomo Leopardi in Pequenas Obras Morais, «Ditos Memoráveis de Filippo Ottonieri».

1 comentário:

Henrik disse...

Magnífico conjunto de excertos.